Rio de Janeiro é a segunda cidade no ranking na realização de cirurgias plásticas

A alta procura por serviços estéticos aumenta a prática ilegal

do serviço e especialista explica melhor forma de se prevenir

Com a proximidade do verão, o Rio de Janeiro sobe para o topo da lista de destinos preferidos para turismo. Mas não é o samba nem as praias que prometem movimentar a Cidade Maravilhosa na estação mais quente do ano. O turismo médico promete atrair pessoas do mundo todo nos meses de dezembro e janeiro. E são os procedimentos estéticos os maiores responsáveis por esse boom. De acordo com dados da Medical Tourism Association (MTA), o Brasil está em segundo lugar no ranking de países mais procurados por pessoas que moram no exterior para realizar cirurgias plásticas, ficando atrás apenas da Índia. “Muita gente aproveita que vem visitar parentes nas festas de fim de ano para fazer uma intervenção. O problema é que há crescimento desenfreado de clínicas irregulares pela cidade. Tanto o turista quanto o carioca precisam ter muito cuidado ao escolher o local e o profissional com quem vão operar. E fazer essa escolha à distância pode ser ainda mais complicado”, alerta Matthews Herdy, cirurgião plástico membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica e da ISAPS (Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica).

Números do Instituto Municipal de Vigilância Sanitária (Ivisa-Rio) mostram o crescimento das denúncias de complicações em procedimentos e de locais que estariam realizando cirurgias plásticas de forma ilegal, nos últimos 2 anos, em diferentes bairros da cidade. Nas fiscalizações realizadas entre 2021 para 2023, as intimações aumentaram 163% e o número de interdições cresceu seis vezes. Ainda de acordo com o instituto, a maior parte das denúncias nos anos de 2022 e 2023 são de clínicas na Zona Oeste, que correspondem  a 47,06% das chamadas para o número 1746, seguido pela Zona Sul (35,29%) e Zona Norte (17,65%).

Nos meses de março e junho, 2 mulheres morreram ao realizar uma lipoaspiração. Uma delas teve o intestino perfurado por erro médico, e a outra sofreu complicações após a anestesia, mas não foi socorrida após o procedimento não estava sendo realizado em um local adequado. Ainda em abril desse ano, mais de 60 pacientes denunciaram erros médicos de dois cirurgiões que atuavam no Rio de Janeiro e Bahia.

O cirurgião plástico Mathews Herdy alerta que procedimentos que exigem anestesia, como lipoaspiração e blefaroplastia (correção das pálpebras), precisam ser realizados, necessariamente em um hospital, com os devidos equipamentos de segurança e por um médico especializado.

“Antes de realizar qualquer cirurgia é preciso ver a qualificação e especialidade daquele profissional, ele precisa ser aprovado pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica. Também é importante procurar por referências desse cirurgião e se ele é qualificado o bastante”

pontua Matthews Herdy
Cirurgião plástico, Matthews Herdy. (Crédito – Divulgação)

O Rio de Janeiro é o segundo na lista dos estados que mais realiza esses procedimentos, segundo pesquisa feita pela Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica. De acordo com a mesma instituição, o Brasil é o segundo do ranking mundial na realização de cirurgias plásticas, de acordo com pesquisa feita pela. Em 2020, o número de procedimentos chegou a 1.306.962.

Os dados do Ivisa-Rio podem estar muito abaixo do número real de locais que realizam cirurgias plásticas de forma irregular.

“Hoje, o procedimento é autodeclaratório. Ou seja, o proprietário preenche um formulário no qual ele mesmo atesta se o estabelecimento é apto para os procedimentos. Somente nas fiscalizações periódicas que podemos verificar se há alguma infração”

explica a presidente da instituição, Aline Borges.

Herdy explica que, além dos cuidados na hora de escolher o profissional e o local, há ainda a necessidade de consultas e exames prévios que são fundamentais para verificar a saúde do paciente para, assim, garantir a segurança e minimizar intercorrências nos procedimentos.

“O acompanhamento antes da cirurgia é essencial. É importante saber se o paciente tem alguma condição crônica ou alguma doença. Se ele tiver hipertensão, por exemplo, uma anestesia pode levá-lo à morte. Então, uma decisão sobre procedimentos e valores só é possível depois de uma avaliação do paciente. Portanto, desconfie de preços passados antes de uma consulta”

ensina Herdy.

“O imediatismo fere a naturalidade” , com essa frase o também cirurgião plástico Nicola Biancardi, formado pelo renomado Instituto Pitanguy, destaca a importância da informação correta quanto ao planejamento cirúrgico.

“O planejamento cirúrgico claro para o paciente é a chave para a realização de cirurgia com segurança e sem complicações observando características individuais”.

acrescenta Nicola Biancardi

Em estudo feito pela ISAPS (Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica), 61,8 % das mortes por cirurgias plásticas são causadas pela Lipo. O médico também lembra que cabe ao especialista orientar se aquele é o procedimento ideal e que trará o resultado próximo do qual o paciente deseja.

“Existem técnicas modernas, com auxílio de tecnologia como laser e ultrassom que minimizam os riscos, reduzem tempo e desconforto do pós-operatório e proporcionam resultado mais natural e harmônico, com menos sangramento e menos inchaço. São procedimentos mais indicados para o período do verão, por exemplo, mas você não vai encontrar esse serviço em clínicas clandestinas”

destaca Herdy

Os procedimentos cirúrgicos para estética além de serem banalizados, são usados de forma incorreta, relata Herdy. “Muitas pessoas, principalmente mulheres, procuram a lipoaspiração para emagrecer, mas que ela não é destinada a esse fim, apenas para modelar o corpo e retirar gordura localizada. Quanto maior a quantidade de gordura, retirada do corpo, mais líquidos e sangue são retirados também. A banalização desse procedimento incisivo faz com que os riscos dessa cirurgia aumentem”

finaliza o cirurgião plástico, Matthews Herdy
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