POR JANSEN LEIROS JR
Ao longo da semana passada, de modo recorrente, falamos da grave crise ética pela qual passa nossa sociedade. E ainda que se perceba que tal crise tenha amplitude mundial, nos concentraremos no Brasil como preocupação primeira, já que tal realidade afeta direta e imediatamente nosso presente e futuro.
É claro que apontar uma única causa para essa crise, seria desprezar sua complexidade. Mais que isso. Seria desprezar aqueles que dependem de uma análise profunda dessa realidade, para passarem a ter uma existência minimamente digna, vivendo além das frágeis fronteiras da sobrevivência. Reconheço que há quem discorde de que tal crise existe instaurada no mundo.
Mas também sei que não estou sozinho nesse entendimento.
Em papos de esquina, por vezes ouço comentários sobre flagrante inversão de valores ou subversão moral. Porém entendo tais realidade como derivadas do abandono à ética social, deixada ao caminho na estrada das conveniências pessoais, dos interesses individuais, e do fisiologismo oportuno, daqueles que lucram com a perda total de um regramento mínimo para a vida em sociedade. Dos que obtêm vantagens com a perda de princípios.
Ora, muitos não entendem ou nem mesmo não percebem essa crise ética, simplesmente porque nem mesmo sabem da existência da ética como possibilidade de orientação e conduta.
E por que não sabem? Porque tanto não são instruídos nisso, quanto não têm onde buscar tal informação.
Segundo dados do Sistema Nacional de Bibliotecas Públicas-SNBP, entre 2015 e 2020 o Brasil perdeu 764 bibliotecas públicas. Os dados mais recentes disponíveis no site da instituição, revelam que em 2015 a base de dados contava com 6.057 bibliotecas públicas, número que caiu para 5.293 em 2020, revelando uma perda considerável de unidades que poderiam promover o acesso à leitura, daqueles que dependem de políticas publicas para exercerem o direito cidadão ao conhecimento. Um verdadeiro desmanche do patrimônio cultural.
O flagrante desmanche da estrutura pública capaz de democraticamente oferecer o acesso aos livros, certamente encorpa o tanto de razões pelas quais, uma população com baixos níveis de educação, sofre com a falta de conhecimento dos princípios éticos da vida em sociedade. Ora, o Estado que fecha bibliotecas é o mesmo que se autodenomina pátria educadora?
É claro que esse não é o motivo único e nem mesmo o principal, pelo qual atravessamos essa crise. E sim, essa não é uma culpa especifica desse ou daquele governo, ainda que decisões equivocadas nos últimos anos tenham contribuído para o agravamento da situação. Sem acesso a leitura a dieta de ideias se torna pobre. E empobrecida, a construção de valores e da cidadania acaba por sofrer de inanição.
Efetiva e infelizmente, dados como esses divulgados pela matéria da BBC Brasil, demonstram a total falta de planejamento, de diretivas, e de políticas públicas realmente fomentadoras de uma educação que produza probidade e bem-estar social. E é claro que, em ambiente de pouca instrução e senso de coletividade, porque falto de leitura e conhecimento, farinha pouca, meu pirão primeiro. Salve-se quem puder. Antes ele do que eu… afinal quem mandou ser otário? Também gosto de levar vantagem em tudo, certo?